Entrevista com o arquiteto Gilberto Suaid
A agradável sala do arquiteto e designer de joias Gilberto Suaid, no Flamengo Park Towers, é um retrato da sua personalidade. Cada item da decoração é um registro da sua própria história e andanças pelo mundo. E o orgulho que ele demonstra para descrever cada item é o mesmo para relembrar momentos da sua vida e profissão. Natural de Vitória, no Espírito Santo, Gilberto começou a carreira como arquiteto em sua cidade natal, mas logo veio para o Rio e aqui se estabeleceu. Foi diretor de obras no Município do Rio de Janeiro e arquiteto do Departamento de Estrada de Rodagens do Estado. Paralelamente ao serviço público, Gilberto sempre manteve um escritório particular onde desenvolve seus projetos de arquitetura. Trabalha, também, como designer de joias e tem um carinho especial por essa área.
Gilberto, o que te fez escolher uma sala no Flamengo Park Towers?
Eu fiquei dois anos e meio esperando sala nesse prédio, pois é um local que sempre me agradou muito. E, principalmente, porque moro a cinco minutos daqui. E neste condomínio não tenho problema de estacionamento, pois adquiri a sala com uma vaga. Além disso, tenho estacionamento com preço honesto para clientes, o que é importantíssimo aqui no Rio. Meu antigo escritório era no Centro da Cidade e o preço do estacionamento lá era muito puxado para os clientes, que reclamavam, também, da dificuldade de se encontrar um local confiável para parar. E aqui no condomínio tenho segurança, limpeza e uma apresentação impecável. A administração sempre busca concepções novas e soluções modernas de informática. O prédio está totalmente modernizado e bem administrado. Isso é um espetáculo. Não posso deixar de destacar a tranquilidade que eu tenho neste local. O barulho aqui é zero e a vista é maravilhosa. Olho pela janela e me deparo com o Corcovado, Pão de Açúcar e a praia. Não troco isso aqui por nada.
Qual sua área de atuação na arquitetura?
Eu desenvolvo muitos projetos corporativos. E caso o projeto seja muito grande, me associo a outros profissionais para executar. Tenho amigos que trabalham só com hospitais. Outros, só com hotelaria. Acabo me associando a eles para pegar projetos maiores. Na minha experiência como arquiteto já fiz muitos prédios. Eu fui da diretoria do departamento de edificações, então possuo bastante conhecimento em código de obras. Dei aula por 20 anos na Santa Úrsula de Legislação Aplicada ao Trabalho e Arquitetura. E isso é muito importante, pois sem código e normas de edificação você não projeta. Dei aula durante 12 anos, também, no Instituto Brasileiro de Gemologia, sobre desenho de joias, que é um ramo que eu gosto muito. Atualmente, faço muitas obras de reformas, principalmente de apartamentos antigos.
Já que você tocou no assunto de reforma, você gosta do conceito de RetroFit, que inclusive vem sendo aplicado aqui no no condomínio?
Sou muito fã. Não só do RetroFit, como da restauração. Gosto muito de preservar o passado. Faço questão de preservar a época, material e estilo. Para mim, não cabe colocar um elevador de aço em um prédio de arquitetura europeia. Não faz parte da alma do prédio. O RetroFit é isso, você restaurar e modernizar, mas mantendo a alma e as características do projeto arquitetônico original. Economicamente é muito mais vantajoso cobrir o antigo cabeamento com uma estrutura nova de aço do que restaurar uma pedra de cantaria, por exemplo. E nem existe mais mão de obra para isso. Quando eu vejo uma pedra de mármore maravilhosa dessas pichada, quase morro. É muito caro restaurar esse tipo de construção. Pego muito apartamentos decadentes para restaurar e dou um tom de modernidade neles.
É muito difícil conciliar o gosto do cliente com as preferências do arquiteto?
Eu projeto para o cliente. E para isso, tenho que entrar na sua intimidade. Preciso saber se a pessoa é casada, se tem filhos, suas preferências. Tenho que incluir isso dentro do projeto que vou entregar. Não posso deixar meu gosto pessoal falar mais alto. E isso é muito corriqueiro na arquitetura, gerando muitos conflitos. Se eu entrego um projeto que é a minha cara, a pessoa vai morar infeliz. O projeto tem que contemplar e satisfazer, inevitavelmente, o cliente. E dentro das preferências e orçamento dele eu posso, com meu conhecimento, executar a melhor solução.
Sua sala tem diversas antiguidades. Você é um aficionado por elas? Que histórias elas carregam?
As pessoas me chamam de antiquado, mas para mim isso é vivência. Tenho, sim, muitas antiguidades, mas é algo que eu gosto muito e motivo de orgulho para mim. Me chamam de narcisista porque eu tenho aqui um quadro meu que foi pintado em Paris, por exemplo. Mas eu adoro esse quadro, eu estava no meu auge! Quem lida com arte é muito mal-interpretado, chamado de cafona. Tenho coisas do interior da Bahia, África, Índia, China, Síria, Londres, Nova Iorque. Coisas que herdei do meu pai e que fizeram parte da minha infância. E esse meu passado convive harmoniosamente com a modernidade dessa sala. Isso para mim é maravilhoso. Eu não nego o que eu vivi, tudo está aqui. Eu sou essa sala.
Você tem uma carreira paralela como designer de joias. Como isso começou?
Tudo começou há 50 anos. Eu cursava arquitetura na época e tinha conhecidos que eram donos de uma grande indústria de joias. Um grande amigo meu trabalhava na oficina deles e me perguntou se eu estava interessado em desenhar algumas medalhas para essa indústria. E eu nunca tinha feito nada nessa área. Mas a minha resposta foi: lógico que estou interessado! Fiz o desenho de uns 30 modelos e ele levou para a diretoria. Os donos da empresa ficaram loucos, adoraram. Os desenhos foram produzidos e foi um sucesso total. Eles continuaram a me pedir desenhos e, apesar de falar que não era minha área, continuava a produzir. Até que um elefante que eu desenhei foi um sucesso assombroso de vendas. A partir daí, entrei no mercado de vez. Produzi como um louco, entrei em concursos em vários países e ganhei diversos prêmios. Comecei a dar aula no Instituto Brasileiro de Gemologia e uma das minhas alunas quis fazer produção comigo e foi outro sucesso. Ela passou a vender essas peças na Europa, veja só. A vida te dá oportunidades e você tem que agarrar. Se não tivesse aceitado o convite do meu amigo para fazer os primeiros desenhos, talvez jamais tivesse entrado nesse ramo. E eu consegui conciliar tudo. Na mesma época, tinha meu emprego público, meu escritório particular de arquitetura e meu trabalho como designer de joia. E os ambientes de trabalho eram completamente diferentes. E é preciso saber lidar bem com essa diferença. Nunca abri muito para meus colegas de repartição esse trabalho que eu tinha com as joias, por saber que não era o universo deles.
Que dicas você daria para um arquiteto recém-formado?
Antes de tudo, trabalhar com honestidade e cumplicidade. A aceitação tem que prevalecer sobre a imposição. Eu tenho que escutar o meu cliente e aceitar suas opiniões. Tentar atendê-lo da melhor forma possível dentro do que ele me solicitou e não do que eu quero fazer. Isso é primordial. Trabalhar com bom humor também é fundamental. Um projeto flui com bem-estar. Não imagino um projeto bem realizado se seu estado de espírito estiver afetado. Outro ponto importantíssimo é saber atender as exigências financeiras do cliente, mantendo sempre o pé no chão. E valorize os projetos pequenos. Não pense que a vida do arquiteto será apenas grandes projetos. Em um trabalho menor você pode criar coisas grandiosas, com um resultado final que vai ser satisfatório tanto para o cliente quanto para o profissional. O arquiteto não pode ser prepotente.