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Luiz Castro Acatauassú Nunes, presidente da Associação Brasileira de Sommeliers

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A Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-Rio), com sede no Flamengo Park Towers, é uma entidade sem fins lucrativos, fundada no Rio de Janeiro em 1983, que tem como objetivo a divulgação do vinho e a propagação de conhecimentos sobre o assunto, através de cursos regulares abertos a profissionais e amadores. Membro da Association de la Sommellerie Internationale (ASI), com sede em Paris, a ABS tem participado de todos os concursos mundiais da categoria, desde 1986, e em 1992 conseguiu um feito inédito: trouxe o concurso para o Rio de Janeiro, reunindo, pela primeira vez fora da Europa, dezenas dos melhores profissionais do serviço de vinhos do mundo. A associação promove, também, atividades ligadas à enogastronomia, adaptando vinhos e outras bebidas às refeições.

Em um bate-papo muito agradável, conversamos com o atual presidente da associação, o engenheiro Luiz Castro Acatauassú Nunes, que explicou um pouco o trabalho da entidade e, claro, nos mostrou um pouco do seu conhecimento desse universo tão amplo e fascinante.

Fale um pouco sobre você e de sua trajetória na ABS-Rio.

Eu sou engenheiro e sempre me interessei por vinhos. Através de um amigo, soube da existência da ABS-Rio, uma associação de estudo e ensino de vinho e me interessei bastante. Entrei aqui no ano 2000, portanto estou fazendo 16 anos na associação. Durante esses anos, fiz diversos cursos e viagens. Fui convidado, então, para fazer parte da diretoria como diretor financeiro e, finalmente, em janeiro deste ano, assumi a presidência.

Quais são as principais atividades da ABS-Rio?

A ABS-Rio basicamente é uma associação de ensino. Nosso principal objetivo é a formação e aperfeiçoamento de profissionais na área de vinhos e outras bebidas. Além dos profissionais, contamos com as pessoas que não trabalham no setor, mas possuem grande interesse no assunto. Sendo assim, temos uma gama muito grande de atividades e cursos para oferecer. O associado da ABS faz um curso básico para ter um conhecimento inicial das bebidas, principalmente de vinho. Com a especialização, buscamos aumentar o conhecimento na área de seu interesse. Oferecemos, também, atividades com degustação de bebidas e viagens a diversas vinícolas. Todo ano nós vamos ao Rio Grande do Sul, por exemplo. Nosso roteiro inclui Argentina, Chile, países da Europa, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e até na China nós fomos há dois anos. As atividades aqui na associação são muito variadas. Evidentemente, cada curso tem um custo e as pessoa fazem de acordo com sua necessidade e interesse.

Quantos associados a ABS-Rio possui?

Nós temos um quadro permanente de, aproximadamente, 2 mil associados. Incluindo pessoas que estão aqui há muitos anos e os estudantes atuais. É uma associação bem ampla que engloba profissionais e amadores, os chamados enófilos. A ABS do Rio de Janeiro foi a primeira do Brasil a ser criada há 33 anos. Em 2018 nós faremos 35 anos e estamos abertos a novos assuntos e bebidas. Nós temos cursos de cerveja aqui, por exemplo. Nossa atividade principal é o vinho, mas em nossos estatutos sempre constam a observação “vinhos e outras bebidas”. O universo do vinho é diretamente ligado à cervejas, destilados, cafés, queijos, etc. A ligação com a gastronomia é muito forte. Então, oferecemos, também, cursos de harmonização de bebidas com as refeições. Acredito que contribuímos bastante para que o Rio de Janeiro tenha bons serviços na área de restaurantes, o que certamente é um apoio muito grande ao turismo da nossa cidade.

Qual o perfil das pessoas que procuram a associação?

A procura maior é de amadores, de pessoas que não estão na profissão. No entanto, formamos um quadro considerável de garçons e sommeliers. Nos principais restaurantes da cidade, pode-se notar uma grande número de profissionais formados e aperfeiçoados aqui.

Qual o peso de um curso da ABS no mercado? Os principais restaurantes exigem cursos da associação para os seus profissionais?

Não é uma exigência legal ter o curso da ABS. O que existe é uma consequência do trabalho que temos feitos nos últimos 33 anos e que é reconhecido no setor. Evidentemente, existem sommeliers que se formaram até no exterior. Alguns são europeus e estão trabalhando na cidade, e procuramos ter as melhores relações com eles. Muitos são convidados para dar aulas aqui de assuntos correlatos. Podemos dizer que a maioria dos sommeliers da cidade passaram pela ABS-Rio ou por formação ou por aperfeiçoamento.

Os profissionais do vinho são desvalorizados?

Eu não vejo desta forma. O que ocorre, como em toda atividade econômica, em termos de empregabilidade e remuneração, é uma variação de acordo com o momento da economia. Eu diria até que os profissionais são bem valorizados no Rio. No entanto, quando a economia está mais fraca, todas a profissões sofrem uma desvalorização em termos de remuneração.

Como o senhor avalia a produção brasileira de vinhos e o consumo do brasileiro?

O Brasil consume muito pouco vinho ainda em relação a outros países. O brasileiro consome uma média de 2 litros por habitante ao ano. Em países como a Argentina, Chile e França o consumo chega a 40 litros por habitante ao ano. Mas notamos que esse consumo no Brasil está aumentando bastante. As empresas nacionais, de 30 anos pra cá, tiveram um desenvolvimento fantástico. De vinhos considerados de qualidade inferior, hoje já dispomos no Brasil de empresas com vinhos de primeira linha. Há uma evolução muito grande. No entanto, o que o Brasil faz de melhor são os espumantes. Os espumantes feitos na Serra Gaúcha têm reconhecimento internacional. O clima na Serra Gaúcha não é muito favorável ao vinho tinto. Mas o Brasil tem outras áreas fazer isso. Hoje em dia a produção de vinhos tintos está se deslocando para a Campanha Gaúcha (Pampas). Uma área muito promissora que está se desenvolvendo é o Planalto de Santa Catarina. Já temos alguns vinhos muito bons sendo produzidos lá.

Por que os espumantes no Brasil possuem uma qualidade superior?

O Brasil tem um clima bem favorável para os espumantes. As chuvas na Serra Gaúcha no primeiro trimestre fazem que as uvas sejam colhidas com uma acidez um pouco mais alta. E espumante precisa de acidez. Acontece o que chamamos de “terroir”, que são as condições de clima e solo e de um conjunto de fatores favoráveis ao espumante, que sem dúvida nenhuma é reconhecido internacionalmente.

O brasileiro tem preconceito com os vinhos nacionais?

Eu diria que isso existe e é uma coisa que não é correta. Nós temos vinhos bons e vinhos ruins em todos os países. Como o Brasil é um país novo em termos de conhecimento e consumo de vinhos, ainda existe alguns preconceitos. Países como Portugal, França e Itália certamente possuem vinhos excepcionais, mas também produzem vinhos de qualidade inferior. Assim como o Brasil possui vinhos de qualidade inferior e vinhos muito bons. Então não existe essa qualidade ligada diretamente a um país. Isso não é uma forma correta de se apreciar. Quem acha que no Brasil não tem vinhos bons está muito enganado. Infelizmente ainda existe esse preconceito.

Algumas pessoas defendem a restrição de vinhos internacionais no mercado para impulsionar os vinhos nacionais. O senhor concorda com essa medida?

Há 30 anos, o vinho brasileiro era ruim porque não existia um parâmetro e uma concorrência. Nessa época, por falta de divisas no Brasil, era muito difícil importar vinho. Isso eu senti de perto no meu trabalho. Como não se importava vinho, não existia incentivo para melhorar os vinhos nacionais. No momento em que houve uma abertura, os vinhos nacionais tiveram um salto enorme de qualidade. Esse protecionismo, se vier a ser implantado, pode nos fazer regredir bastante. A falta de parâmetro e uma concorrência de qualidade é muito ruim em qualquer setor.

Como o senhor definiria um vinho de qualidade? Tem alguma indicação para a gente?

O vinho bom é o vinho que você gosta. Se você gosta de determinado vinho, aquele é o vinho ideal para você. Se você conhece três rótulos ou quatro apenas, sua opção é muito limitada. O que fazemos, então, além de mostrar os tipos de vinho, castas e processos, é chamar a atenção para aos aromas, qualidades e abrir o seu leque. Se você provou quatro vinhos, você vai escolher o melhor dos quatro. Se você provou 150, certamente o vinho que você vai eleger como o melhor vai ser bem melhor. É muito difícil indicar um vinho melhor, já que cada um tem sua opinião pessoal. No entanto, o conhecimento ampliado que você obtém aqui, te dá condições de apreciar uma grande variedade de vinhos disponíveis. E essa variedade é uma das coisas mais atraentes que temos nesse universo.

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